Abraço da Filha

Criado: Sexta, 25 Janeiro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Sou persistente, dizem até teimoso, de um modo tortuoso: tento muitas vezes fazer algo, se não consigo perco a paciência, penso que nunca mais vou querer saber daquilo, tempos depois surge da minha mente, não sei como, uma nova maneira de tentar e frequentemente acabo conseguindo. No início do ano passado, na hora em que Clara saia para a escola eu sempre pedia um beijo ou abraço, mas, após seu rosto se machucar seguidamente com meus óculos e descoordenação motora, ela passou a dizer logo “não” e parei de pedir, com tristeza. Neste mês, percebi que se me erguesse de joelhos não haveria risco de machucá-la, voltei a pedir e Clara, a me abraçar quando vai para o colégio, para minha alegria.

Gestos e movimentos triviais para a grande maioria das pessoas geralmente se tornam bem complicados para quem tem paralisia cerebral.

Fisioterapia com a Filha III

Criado: Terça, 15 Janeiro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Desta vez Clara participou da minha fisioterapia por vontade própria, para se divertir. Fiquei arrombado, pois ela já está com 13 ou 14kg.

Dias de Praia

Criado: Terça, 15 Janeiro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Silvia às vezes me chama de “franciscano” devido à minha economicidade e, em particular, relutância de comprar roupas. Em contrapartida, sua maior despreocupação com gastos de vez em quando me exaspera. Meses atrás, ela inventou de alugar por cinco dias uma casa na praia de Itajuba, em Santa Catarina, o que me aborreceu muito porque achei que esse dinheiro deveria ser poupado, por esperar um começo de ano financeiramente difícil – na realidade, nossas finanças estarão até melhores neste semestre. Depois, fiquei com medo de possíveis acidentes por irmos com quatro crianças inconsequentes – nossa empregada também ia e levaria a filha –, sobretudo pelo comportamento difícil da filha mais velha de Silvia.

As meninas realmente fizeram vários tumultos a cada dia ao ponto de termos de gritar com estas, mas nada de errado aconteceu. Passei boa parte da infância morando de frente para o mar, aprendi a lidar com ele mesmo se estiver bravio – algo notável para quem tem PC severa – e nunca perdi tal habilidade, embora vá à praia bem pouco. Nesses dias, minha maior diversão foi brincar com as ondas e só no último é que contei a Silvia que minha família nunca me deixou sozinho num mar bravio; quis fazer um vídeo disso, inclusive para tirar onda (!) dos meus familiares, mas na ocasião estava sem a prancha de comunicação e Silvia não me entendeu. Também passamos um dia no Beto Carreiro World, no qual, pelo tratamento preferencial a pessoas com deficiência, usamos um número maior de brinquedos do que se tivéssemos de enfrentar filas. Saí de Itajuba receptivo a essas viagens... desde que não prejudiquem nossas finanças.

 

Compromisso Antiquado

Criado: Segunda, 07 Janeiro 2019 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Uma amiga vem colocando fotos de rosto no perfil do Facebook tão editadas que rio dela cada vez mais. Um amigo publicou lá uma foto de uma ex-presidente que instantaneamente vi ser falsa, perguntei "você está mentindo ou perdeu a capacidade de discernimento?" e ele enrolou para fugir do assunto. Por outro lado, em novembro fiquei incomodado com as minhas fotos nos perfis de redes sociais serem de anos atrás, me preocupei em passar uma ideia falsa de como sou e as troquei, mesmo sabendo que mostraria meu envelhecimento. Esse meu compromisso com a "verdade" – apesar de saber das enormes dificuldades desse conceito – ou pelo menos com a autenticidade me deu a sensação de que me tornei antiquado, anacrônico

Será a Lua?

Criado: Segunda, 31 Dezembro 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Não sei se é pela fase da Luawink, mas hoje Clara está mais próxima de mim: logo após acordar ela passou um bom tempo acariciando minha cabeça enquanto comia no sofá; e, depois do almoço, espontaneamente subiu no carrinho para ser embalada por mm.

O Inevitável Salão de Beleza

Criado: Quinta, 27 Dezembro 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Grilo Falante

Criado: Quinta, 27 Dezembro 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Na semana passada, Silvia me vestiu todo de verde, achei ridículo, ri, ela brincou que eu era o “grilo falante” e até pensou que colocou aquela roupa inconscientemente por essa causa. Então, percebi que, durante grande parte da vida, fui como tal personagem para muita gente, inclusive para uma mulher bem equilibrada como Silvia.

Marcas na Filha

Criado: Quarta, 26 Dezembro 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Ultimamente, às vezes Clara usa o tablet com o pé, obviamente me imitando.

Às vezes, ela demonstra uma tendência a ser organizada, guardando os brinquedos e outros objetos após usar, o que se deve exclusivamente ao meu exemplo – não creio que tal tendência se mantenha, pois a família tem três exemplos contrários.

As outras pessoas sempre destacam a alegria, a facilidade de rir e as gargalhadas de Clara, inclusive na sua avaliação pedagógica, o que é a melhor marca que já deixei nela – quando gargalha em casa, é frequente ela olhar para mim.

Afastamento

Criado: Sexta, 21 Dezembro 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Não consegui mais embalar Clara no carrinho, porque ela não me deixa pegá-lo, em contraste com o que acontecia até o início do ano. Ela deixou de vir espontaneamente para meu colo porque, quando o fazia para assistir vídeos no Youtube, ao tentar aproximar o tablet muitas vezes eu fazia movimentos descoordenados que a assustavam ou incomodavam. Pelo mesmo motivo, Clara parou de me beijar e abraçar. Este afastamento, ocorrido neste ano, causado por minha descoordenação motora vem me entristecendo.

Voltando a Embalar

Criado: Terça, 18 Dezembro 2018 Escrito por Ronaldo Correia Junior

Há muito tempo, o carrinho de Clara estava em desuso e, sábado à tarde, Silvia o utilizou para a levar à piscina do nosso condomínio. À noite, para mexer comigo Silvia voltou a botar Clara no carrinho, logo eu quis balançá-la, mas Clara só queria que a mãe o fizesse, para minha tristeza. Silvia foi fazer outra coisa, Clara se distraiu, parou de implicar comigo, peguei o carrinho, adormeceu em poucos minutos e, desde então, repeti isso duas vezes. Na escola, ela está habituada a dormir em torno do meio-dia, fica irritada quando não o faz, nas férias parece que o único jeito de manter tal rotina é eu embalá-la, sinto vontade disso para tentar reaproxima-la de mim, mas não sei se dará certo nem se seria bom.