No fim de abril, fomos a Porto de Galinha para comemorar os 90 anos da minha mãe. Ao chegarmos ao hotel, Silvia foi à recepção fazer o check-in enquanto o resto da família ficou no carro, as meninas foram botar as pulseiras de hospede, me deixando sozinho no estacionamento e, como a porta do meu lado estava travada e a janela, fechada, minha única saída era ir para o banco do motorista, para sair do sol. Voltaram com um funcionário para colocar minha pulseira, depois da surpresa inicial todos da família entenderam meu raciocínio como óbvio, mas ele repetiu três vezes “ele (eu) é esperto” sem se dirigir a mim e com espanto. Em seguida, fomos para o restaurante do hotel para almoçar, Silvia foi ao banheiro com sua primeira filha, o garçom foi à nossa mesa, entregou um cardápio a Clara e outro a minha enteada mais nova, só me deu um quando demonstrei expressamente que o queria e, ainda assim, o botou de cabeça para baixo – ou seja, este supôs que eu não saberia ler de modo algum!

Antes de voltar para João Pessoa, passamos no maior shopping center de Recife. Num momento em que fiquei sozinho, aproveitei para andar na cadeira de rodas pelas imediações, uma atendente de um café se preocupou e me ofereceu ajuda educadamente, só por solidariedade – foi uma das poucas atitudes boas que vi nesta viagem. Antes de saímos do shopping, fomos a um banheiro, Silvia e Clara entraram no feminino enquanto fiquei esperando perto do para pessoas com deficiência e vi uma mulher sem deficiência entrar neste. Tal banheiro estava com um vazamento, tivemos de ir a outro, a mesma situação se repetiu e, quando finalmente entrei no banheiro para PCD, este estava imundo. O banheiro para PCD da parte mais sofisticada do maior shopping de João Pessoa fica trancado e, quando alguém com deficiência precisa, tem de pedir a chave a uma atendente – pelo menos sua administração tomou uma providência a respeito – e sempre há carros estacionados nas vagas para PCD – o que Clara notou não ocorrer em Curitiba –, mas em geral os habitantes daqui tratam melhor esse tipo de gente.

Nasci em Campo Grande-MS, mas fui morar na região metropolitana de Recife aos 6 meses, onde passei a maior parte da vida, portanto o considero a “minha” cidade e, devido a essas atitudes, nesta viagem não tive vontade alguma de voltar a morar lá, o que me entristeceu.

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